Não acredito em coincidências. Há coisas que acontecem e não se explicam. Acredito que não fui eu que escolhi esta profissão, foi ela que me escolheu a mim e todos os dias tenho provas disso.

Não é de ânimo leve que escrevo este artigo. Inclusive nem sei se ele está no lugar correcto, na altura certa. Até acho que tenho de desenvolver mais isto (e concerteza que sim).


Por estes dias entrou-me uma persona no gabinete que eu não conhecia, nem conhecia o seu historial. Chamou-me a atenção os pés, calosidades em zonas específicas e até ausência de unhas. Algumas outras zonas no corpo com extrema secura e irritação... Origem nervosa, provavelmente. Com o desenvolver da conversa, revelou um pouco da sua dor; distante, quase ausente, confusa...

Após falar, virar a conversa contra ela, fazer questões filosóficas e ter colocado o óleo essencial de lavanda a "trabalhar", acabou por despertar a curiosidade e entrou no jogo. Nunca tinha feito terapia, nunca tinha falado da sua dor. Abracei-a... E o choro finalmente se soltou.

O ambiente ficou pesado e decidi levá-la junto de uma árvore, para nos ligarmos um pouco às nossas raízes. E ela conseguiu acalmar.

É... Nem sempre é fácil lidar com pessoas, e por muito que digam que não acreditam, há energias a circular. Tudo é energia, basta sermos seres vivos e sermos constituídos por milhões de átomos! Átomo é energia... Nós somos energia! E nem sempre carregamos boa vibe.

Não sou reikiana. Não sou bruxa. Não sou católica fervorosa. Mas sinto, e de que maneira, certas coisas que as pessoas carregam dentro delas. Não raras vezes clientes nem passam da porta para dentro, simplesmente porque já vêm do avesso com outras pessoas!

O caso que relatei acima é um de muitos. E é aqui que vemos a importância do papel de esteticista. Não trabalhamos apenas a beleza, mas somos promotoras de saúde! E não digo só criar "hormonas da felicidade" por as pessoas se sentirem belas, mas sim fazer uma verdadeira mentoria, mimar e cuidar com atenção da persona que está à nossa frente.

Neste caso em particular, ela acabou por confessar que nunca procurou ajuda. Mas também nunca lhe foi oferecida! Quem olhou para ela com olhos de ajuda? Quem lhe estendeu a mão para atenuar aquela dor de décadas? Décadas! É horrível!

 

Outras emoções também me invadem de quando em vez. E eu muitas vezes não as consigo controlar da melhor maneira. Já alguns presenciaram a maneira como reajo à partida de entes queridos ou com os quais privei. Não o escondo e mesmo nas redes sociais já manifestei alguns sentimentos.

Já deixei de contabilizar os clientes que partiram. Que deixaram algo de si, que partilharam sorrisos, lágrimas, tristezas, alegrias, que se tornaram mais do que clientes. Sinto a perda de cada um como se fosse da minha família.

Não é fácil trabalhar com uma faixa etária de idade avançada (deve andar mais ou menos pelos 60 anos), mas foi por aqui que comecei, é por aqui que consigo criar bem-estar e conforto. E não é fácil precisamente por não lidar bem com a perda, com a morte. E então, quando a sinto por perto, é como se sentisse que a chamei. Não quero ainda prolongar o tema desta última frase; é um assunto ainda muito meu.

Talvez devido à pandemia Covid-19, ou simplesmente porque me desleixei em algumas coisas, perderam-se muitos sorrisos de pessoas que me trouxeram muita partilha e conhecimento. Hoje, ao saber da partida de mais um, foi a primeira vez que não rolou uma lágrima dos meus olhos. Não por ter sentido menos, mas por me sentir culpada de me ter afastado. Posso dar mil e uma desculpas; sou culpada. 

Então, como posso lidar com a dor e libertação emocional dos outros se nem com a minha sei lidar? Como orientar as cabeças das personas, se nem a minha se orienta? Parece que é uma caminhada que se está a iniciar. Um longo percurso de conhecimento, foco...


 

Nota: este artigo foi escrito em 2 partes distintas, escritas em dias e alturas diferentes. Decidi não mudar nem apagar o que tinha escrito anteriormente, por fazer sentido dentro do contexto.

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